Compreendo Madre...

07:47:00

A exatamente um ano atrás, li um livro chamado Madre Teresa, que contava a história da vida da Beata Madre Teresa de Calcutá, e mostrava uma coletânea de cartas escritas por ela.
Ela vivia na escuridão, mesmo sendo quem era.
Uma pessoa que se doou por inteiro aos pobres e doentes.
Deixou sua própria vida para o bem de todos aqueles que não tinham absolutamente nada.
Se humilhou, sofreu em um país em que o Hindu é a principal religião, e que o cristianismo não é visto com bons olhos, mesmo assim, saia pelas ruas de Calcutá, procurando enfermos para poder ajudar.
E mesmo com toda essa bondade, sofria sozinha, calada, muitas vezes tentada a fazer o caminho mais fácil, nunca desistiu.
Lembrei desse livro ontem, quando uma coisa que eu nunca esperava aconteceu.
Pois é, me lembro que todas as dores e sofrimentos, ela oferecia em sacrifício em prol dos outros, da humanidade.
Pois bem, Madre. Também estou nessa noite escura. E como você via no Santo João da Cruz, o espelho perfeito para compreender sua situação, eu me espelho em ti, para compreender a minha.
Sua biografia nunca foi tão presente na minha vida como hoje.
Aqui abaixo alguns trechos das cartas que ela escrevera:

"Tão profunda ânsia por Deus - e ... repulsa - vazio - sem fé - sem amor - sem fervor. Almas não atrai - O céu não significa nada - reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo."

 "Se não houver Deus - não pode haver alma - se não houver alma então, Jesus - Você também não é real."

se alguma vez chegarei a ser santa, seguramente o serei da escuridão”.




Poema de São João da Cruz- Noite Escura
Em uma noite escura
De amor em vivas ânsias inflamada
Oh! Ditosa aventura!
Saí sem ser notada,
Estando já minha casa sossegada.


Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! Ditosa aventura!
Na escuridão, velada,
Estando já minha casa sossegada.


Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa alguma,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.


Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em lugar onde ninguém aparecia.


Oh! noite, que me guiaste,
Oh! noite, amável mais do que a alvorada
Oh! noite, que juntaste
Amado com amada,
Amada, já no amado transformada!


Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.


Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.


Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado,
Por entre as açucenas olvidado


Utilizarei suas palavras Madre.
Que eu também continue sorrindo para Ele. E que eu seja um lápis em suas mãos.

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