Chuviscos & Luar

17:43:00



































Era possível ouvir as primeiras gotas batendo no telhado e na janela. 
Naquela época a casa era teto e chão, sem laje ou forro a intervir. Eu era pequena, mas já era grande o suficiente para perceber que aquele barulho de chuva que vinha, era algo belo.
Era um ritual de pequenas gotas no telhado, seguido por uma torrente mais forte e um cheiro de terra inconfundível. Algumas vezes, o sol aparecia a terra esquentava, e as cigarras cantavam aquela canção que até hoje me encanta, então o arco-íris saía e a luz iluminava a mata que estava coberta por minúsculas gotas d'água.
Algumas vezes o céu era negro e o brilho dos relâmpagos era seguido pelo sonoro barulho dos trovões. Nesses momentos eu colocava as mãos sobre as orelhas e torcia para que tudo acabasse logo.
Quando estávamos no mês de Janeiro, praticamente não podia sair de casa, pois as chuvas eram intensas e diárias. O céu se cobria de cinza e as gotas vinham noite e dia. Me lembro também das goteiras que incomodavam e molhavam a casa toda.
Passava Fevereiro, chegava Março e, Abril então resplandescia seu céu azul e o sol que brilhava frio por entre a sombra das árvores.
O vapor que saía da boca brincava com a mente infantil, que, não imaginava o porquê daquela fumaça em forma de nuvem, estar saindo de dentro de alguém.
A grama congelava e o sol do meio-dia era frio tal qual o sol matutino.
Chegava Junho, Julho e meninos apareciam de bigodes pintados à tinta preta e meninas com seus cabelos trançados e chapéu de palha. Música, frio, comida, dança e carinho.
O vento forte com pipas coloridas se entrelaçando pelo ar trazia o mês de Agosto a tona. Misturado a brisa, vinha o redemoinho que Saci-Pererê fazia ao passar. O medo da lua-cheia que iluminava toda a clareira e podia trazer consigo o Lobisomem, que sempre assombrou a mente dos moradores daquele lugar.
As noites estreladas traziam um papel negro com respingos de tinta prateada que cobriam todo o firmamento e deixavam todos admirados com tanta beleza.
Entre estações, o tempo passava como as folhas que caiam, e logo brotavam. Tudo ia mudando de lugar e de forma. 
Certo dia a estação seca chegava, as chuvas cessavam e as poucas que caiam faziam barulho nas telhas de barro. O ar ficava pesado, o pó fazia espirais na estrada. As crianças passavam de bicicleta enquanto eu me divertia por entre as árvores.
Eu era pequena naquela época, mas já era grande o suficiente para saber que aquilo era incrível, um ciclo interminável de chuviscos e luar.

-Daiane C Silveira

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-Daiane C Silveira