Com um compasso, feriu-se o dedo.
Juntaram as mãos que a sangrar formaram um elo.
Um pacto...
De que a distância não os separaria jamais.
Eram jovens ainda.
Já se amavam.
Ela era doce e sorridente.
Ele, arteiro e forte.
Anos antes, ele construiu um balanço nos galhos de uma frondosa árvore na colina.
A garota correu esvoaçando o vestido para ver seu presente.
O garoto gargalhava.
Na subida o menino a empurrou.
Ela rolou colina abaixo.
Ele rolou junto.
Ela ficou brava.
Ele pegou em sua mão e sorriu.
Ela o chamou de bobo e correu.
Ele correu atrás.
Ela viu o balanço, o abraçou.
Ele acariciou-lhe os cabelos.
Descobriram o amor.
Ela balançou o dia todo.
Subiram na árvore e viram o pôr-do-sol.
Eram assim as férias de verão.
Nas aulas, pouco se viam.
Porém ao se ver pulsavam.
Em um verão quente e ensolarado,
já no alto de seus quinze anos,
subiram a colina,
um empurrando o outro,
sorriam.
Ele propôs um pacto de amor.
Ela aceitou.
Juntos para sempre estariam.
Nada os separariam.
Ele tirou um compasso do bolso.
ela estendeu a mão.
Ele espetou-lhe o dedo rosado.
Deu o compasso a ela.
Ela o mesmo fez.
O sangue escorreu pelas mãos de ambos.
Juntaram os dedos, o sangue mesclou-se.
Um abraço se deu.
Após o fato vários dias,
empurrões,
risadas e abraços.
Passou-se o verão,
outono,
chegou o inverno.
Ela adoeceu.
Muito mal ficou.
Já não havia jeito.
Não chegou aos dezesseis.
Ele quando soube,
então chorou.
Não entendia.
A queria ali...
Subindo a colina.
Chegaram as férias de verão...
Ele sozinho e tristemente subiu o monte...
Se balançou devagar no balanço...
Viu o pôr-do-sol na árvore.
Sozinho.
Não se ouviam risadas, nem haviam empurrões.
Ele olhou para o dedo.
Havia ainda a cicatriz.
Lembrou-se do dedo rosado dela.
Recordando desceu a colina.
Passou-se o verão,
outono,
chegou o inverno.
Ele adoeceu.
Exatamente um ano após...
Não chegou aos dezessete.
-Daiane C. Silveira