Foto de minha autoria, mais no instagram @caleidoscopica |
Existiu um tempo, que parece não ter existido.
Nesse tempo eu costumava desenhar sóis amarelos com raios que pareciam pétalas de uma flor.
Eu costumava desenhar sóis.
Eu sabia que o sol era amarelo pelo tom que ele produzia entre as folhas verdes no verão, e pela cor alaranjada no crepúsculo diário.
Eu sabia que ele tinha raios porque eles atravessavam a janela da cozinha, atravessavam a lente de aumento e tocavam na pele para esquentar.
Sóis amarelos, com raios feitos pétalas de sol.
Não sabia se o tom era mais fraco, ou se puxava ao tom mais forte. Ele mudava de acordo com a dança nos céus.
As vezes uma nuvem pousava em sua frente, e a terra apagava enchendo-se de sombras.
Outras vezes era tão anil o firmamento que era difícil de mirá-lo (o sol).
Eu assistia seu nascer, assistia-o se pôr, e hoje não posso assistí-lo.
Alaranjado como o pôr do sol.
Em uma parte do ano era quente e o asfalto exalava uma fumaça transparente que desfocava o que estava por detrás dela.
As cigarras cantavam e o suor escorria pela testa, jogava-se tinta vermelha.
Com seus raios incandescentes a nos queimar.
Na outra parte do ano fazia frio intenso, o sol parecia esconder-se, e por vezes distante, com uma coloração que exigia mais tinta branca do que amarela ou laranja.
Ontem me recordei.
Eu costumava desenhar sóis.
E as vezes a nuvem cinza envolvia-o e chegava a chuva a refrescar, ele produzia sete cores no céu, prenúncio de promessa, prenúncio de perfeição.
Era pequenina, e usava canetinha no contorno, muitas vezes mesclava o amarelo e o laranja, que era a cor do pôr-do-sol, e os raios dele (o sol) ficavam parecidos com pétalas de flores.
Caem chuvas torrenciais desses olhos quando se lembram de antigos sóis, quando se escuta a música que questiona a chegada do segundo sol, sol amarelo.
Por vezes pensei em retomar o prazer em desenhar meus sóis, fugindo da escuridão que quer cercar-me.
Saudades eu penso... Costumava desenhar sóis...
Como flores amarelas, cheias de pétalas.
-Daiane C Silveira