Aquelas velhas lembranças de pôr-do-sol e chuvas de granizo

16:46:00





Esta sou eu em meados de 1996 / 1997

As lembranças talvez são os mais doces filmes que passam na minha mente, diariamente. 
Ter lembranças é bom, ao passo em que deve se saber lidar com elas.
Lembrei-me de épocas passadas... Hoje em um domingo parado, tive tempo para pensar e me deliciar novamente com aquela que foi a época mais top da minha vida haha. 
Talvez por ser criança tudo era legal e mais colorido.
Olhei hoje ao meu redor e percebi que tudo a minha volta está diferente, isso não é ruim, mas me faz não ter aquele velho cenário exatamente igual ao que era.
Moro na mesma casa, no mesmo bairro com os mesmos vizinhos e conhecidos desde o meu nascimento.
Foi nesse lugar em que dei os primeiros passos, onde pude ter amigos e pessoas que de certa forma participaram na minha formação. Tenho muitas lembranças, na maioria boas.
Os domingos na minha casa eram normalmente lotados de tios, tias e primos. Saíamos correndo e brincando pelo pomar, e depois do almoço todos os netos pediam 1 real pro vô (1 real naquela época valia uns 10 de hoje haha) para comprar um doce ou salgadinho no bar do bairro que era tipo tudo o que tinha no bairro haha.
Entrei muito cedo na escola, com cerca de 2 anos e meio, e isso não foi ruim, ao contrário, gostei bastante. Me lembro da primeira professora e de uma chuva de granizos que depois de cair deixou um lindo arco-íris no céu, eu e todos os alunos da sala corremos pra pegar o gelo que tinha caído no pátio da escola.
Me lembro de uma cozinheira que fumava e derrubava cinzas do cigarro na comida. Me lembro que os invernos rigorosos faziam que nossa boca produzisse uma fumaça densa a qual brincávamos pela manhã.
Me lembro de desenhar as minhas férias, e de saber ler letra de mão antes dos outros alunos, então traduzia para eles a atividade que seria feita naquele dia.
Me lembro da professora pedir para recortar letras Z das revistas, e eu bem espertinha recortava as Ns e as virava produzindo um Z que era difícil de encontrar.
Me recordo das tardes caçando "sirilis" aqueles pequenos insetos com asas que saiam dos cupins.
Me lembro de brincar com meus vizinhos de Pokemón, Tarzan, caminhãozinho e outras mil coisas que passávamos as tardes inventando.
Me lembro de uma época que chovia  haha. Que no inverno era frio e seco, o verão era quente e molhado.
Na casa da minha tia-avó ficava procurando no Paiól pastilhas de por na parede. Caçava uma de cada cor e de cada tamanho.
Assava formigas.
Via televisão com meu avô.
Ele era daqueles avôs que mais parecia um amigo. Me dedicava todo o seu tempo, fazíamos muitas coisas juntos. Ele me orientava muito.
Me ensinou a rezar, víamos Chaves juntos e ele me escondia da minha mãe quando eu fazia travessuras rs, mas acima de tudo ele me ensinou que o bem nunca é demais.
Me sentava nas tardes  na grama de casa e olhava o pôr-do-sol. As garças brancas sobrevoavam o céu em formato de V, as vezes uma ficava para trás. Elas iam de manhã e de tarde voltavam para os ninhos, e era essa volta que eu observava todas as tardes.
Me lembro das festas juninas na escola e que sempre dançava com meu amigo, e dos natais em que sempre esperava o papai noel.
Do dia de ano, em que desejávamos um bom ano aos moradores do bairro.
Dos filmes de terror da casa da Tia Márcia e das noites em que não dormia depois de assistí-los.
As coisas mudaram bastante, até porque o tempo passa e as coisas são mutáveis. 
Meu avô já não está mais aqui, e eu cresci e não tenho mais tempo de ver as garças no pôr-do-sol.
Os invernos não são tão frios, e os verões são extremamente quentes e mais secos.
As festas juninas e os natais, bom, não são tão divertidos, ou talvez tão brilhantes quanto naquela época.
Muitas pessoas que eu conhecia, se mudaram ou se foram.
Minha casa aos domingos não é mais lotada, e já não vejo meus primos como os via antes.
Me lembro de um tempo que nada importava muito, se ia ou não ter um trabalho, faculdade e dinheiro.
Me lembro que só queria que os pôr-do-sol fossem laranjas e que houvesse granizo e arco-íris após a chuva.


-Daiane C Silveira







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