Os olhos olham um ponto fixo na parede.
Eles poderiam olhar para sempre o mesmo ponto na junção perto da porta.
A paralisia é alterada apenas pela respiração e pelos pés como pêndulos ao lado da cama.
Uma quase-morte.
As sombras produzidas pelos últimos raios de sol realçam os livros na prateleira. O vento balança as penas de pavão que estão sobre a estante.
O computador desligado é ofuscado no canto exibindo a não interação vivida atualmente.
Os all stars espalhados pelo chão são como um relógio que exibe o pouco tempo livre.
A poeira grita sobre os móveis e o chão. A roupa se acumula no cesto trançado e pintado à verniz.
A cabeça dói, as lágrimas rolam.
Vejo o brilho do sol através da janela da cozinha.
A luz ofusca a mente, já me diziam.
O ambiente a meia-luz trás a tona pensamentos que havia dado como perdidos.
As pálpebras não se movem. Como um sonho complexo de liberdade total.
As nuvens mais espessas e cinzentas começam a apagar a luz que ainda brilhava.
A pupila dilata.
A lágrima rola.
Em um movimento contínuo, contorna a face como em uma carícia.
Um súbito desejo de vitória lhe vem a mente.
A chuva cai, o relâmpago risca os céus...
Ela adormece esperando um amanhã ensolarado, em que a visão não se limite a um ponto na junção da parede.
Outro lado, outros caminhos...
Para aquela que teve a coragem de olhar o brilho ofuscante da luz.
-Daiane C Silveira