Não é só a perda de entes queridos que provoca no indivíduo a sensação de luto, traduzida por pesar, tristeza profunda ou aflição. Esse sentimento pode estar presente em qualquer situação que signifique mudança em alguma área e aprender a lidar com ele pode ser essencial para garantir a boa qualidade de vida. A observação é da psicóloga Samara Klug Szachnowicz, especializada no tema.
Segundo Samara, a sensação de luto pode acontecer mesmo em situações em que a mudança é positiva para a pessoa. O exemplo é uma troca de emprego em que o profissional se transfere para uma empresa que lhe ofereça mais benefícios ou para uma função mais atraente ou mesmo que signifique ganho salarial. Embora a mudança seja positiva, é comum que o indivíduo tenha sentimento de perda em relação ao emprego anterior, seja pelo ambiente de trabalho, pelas amizades feitas ou por qualquer outro motivo.
“Qualquer escolha envolve perdas e ganhos e, ao contrário do que o senso comum aconselha, não se deve ignorar a sensação de perda, mas, sim, trabalhar essa sensação para superá-la e construir uma condição favorável para se seguir em frente”, ensina a psicóloga.
Samara enfatiza que essa proposição é ainda mais aconselhável em situações em que o luto vem como conseqüência de uma doença ou de morte de entes próximos. No caso de uma doença, o luto advém da consciência da perda de saúde e, em alguns casos, de restrições eventualmente impostas à rotina do paciente, da conscientização da fragilidade do corpo e do contato com a idéia da morte.
“Trabalhar a sensação de luto em situações de doença ou morte não significa esquecer ou procurar não sentir. A idéia não é que a lembrança e a tristeza deixem de existir, mas, sim, que passem a fazer parte do cotidiano da pessoa e que ela aprenda a viver com isso da forma mais natural possível, permitindo que com o tempo esse deixe de ser seu tema central de preocupação, embora não menos importante”, explica Samara. Para vivenciar o luto, a pessoa precisa ter espaço para poder falar sobre seu sentimento, tendo oportunidade inclusive de exprimir sua raiva sobre a doença ou o ente perdido e de exteriorizar eventuais sentimentos de culpa ou mesmo de alívio.
“Quando alguém morre a tendência é que seus próximos evitem falar sobre aspectos negativos da personalidade do morto, que subitamente passa a ser endeusado, mas falar sobre essas peculiaridades não significa esquecer o lado positivo nem ignorar a dor”, afirma a especialista.
O mesmo acontece em relação à doença, acredita Samara, quando familiares e o próprio paciente passam a tratar a pessoa doente esquecendo-se da totalidade de sua personalidade e focalizando-se exclusivamente na doença. Dedicar todo o seu dia a pensar na doença faz a pessoa sentir-se ainda mais doente, enquanto procurar dirigir a atenção a outros interesses faz com que o sentido da vida fique mais presente. Dedicar-se a outros assuntos que lhe causem satisfação e prazer permite que o paciente valorize mais sua existência e, com isso, consiga com menor dificuldade adotar as medidas necessárias para sua recuperação. Igualmente danoso é o comportamento de negação, quando paciente ou família optam por ignorar a doença, como se fingindo que ela não existe o problema estivesse resolvido.
“Encarar-se como um ser completo, que vai além da doença, é a maneira de criar possibilidades de busca de melhor qualidade de vida, mesmo que haja limitações impostas pela saúde”, acredita Samara.
Dependendo de sua intensidade ou duração, o luto pode ser classificado como patológico, ensina Samara, podendo desencadear processos psicológicos como a depressão. Quando isso acontece, pode ser necessário que o paciente e a família venham a precisar de ajuda terapêutica especializada de psicólogos ou psiquiatras.