Bolinha desenhada no paint |
Quem compra brinquedos em uma loja de brinquedos não é mesmo?
Uma bolinha de borracha feita para brincar com cães chegou na mão de uma menina de aproximadamente 10 anos. Ela não sabia diferenciar se aquilo era ou não um brinquedo para ela, mas era uma bola pulante, de coloração amarela incrível e que servia para brincar nas tardes de verão.
Tardes de verão na época em que essa menina era menina, tinham um odor de terra quente e mato, o céu se coloria normalmente todas as tardes de um azul escuro intenso de nuvens de chuva, que acabavam por no final do céu brilhar de relâmpagos.
A brisa era quente, os grilos cantavam.
Ela havia inventado um novo esporte, que em nos altos de sua mente infantil não podia compreender ainda o motivo de nunca ter sido inventado antes, pensava ela em como era possível ninguém ter em qualquer época em nosso vasto planeta ter inventado tal jogo, estavam perdendo tempo ela pensava.
Esse jogo consistia em bater a bola contra a parede externa (e muitas vezes interna) da casa onde nasceu e cresceu. Quanto com mais força ela jogava, mais forte a bolinha voltava, tornando um desafio para os braços agarrá-la. Logo depois de tantos treinos e tantos dias de verão estava agarrando laranjas quando as jogavam ou qualquer outro objeto pequeno.
Ela jogava quando queria se distrair, quando queria desestressar ou quando estava entediada.
Em uma tarde de outono (sim, ela estendeu seu esporte à essa estação), estava quase escuro e havia chegado a hora do banho e de se recolher em casa, jogou a bolinha com força contra a parede, e ela acabou caindo longe, no meio do pomar de laranjas, e se misturou entre as que estavam caídas no chão.
Procurou uma, duas e três vezes, mas já era tarde e teve de continuar a busca no dia seguinte.
Procurou no dia seguinte, e no próximo também. Assim foi na outra semana. Até que por fim, acabou desistindo pois havia se misturado de tal maneira que ela não encontrava.
Passou inverno e primavera.
Chegou verão.
Ela olhava o céu que dedilhava a doce canção da chuva, que vinha lentamente molhar a terra, foi então que olhou o pomar, verde coberto de grama, e notou, com um impulso, que havia uma única laranja no chão, intrigou-se pensando o motivo de uma única laranja estar lá, sendo que nem na laranjeira haviam laranjas.
Lembrou-se então da pequena bolinha amarela de borracha, que havia se camuflado muito bem durante todos esses meses.
Era ela.
Estava toda mofada, tal como laranja quando fica muito tempo em contato com o solo, após limpar e ela voltar a ser amarela (embora um pouco desgastada) pode então voltar a praticar seus jogos e a pensar em um dia ser tenista, já que ninguém descobria esse maravilhoso esporte inventado por ela.
Os verões foram se passando, e a menina crescia.
Já não tinha todas as tardes livres, na adolescência se tornou triste demais para sair mesmo que fosse no quintal de casa, e quando adulta tinha o trabalho e os estudos para dar conta.
Tornou-se uma mulher, e num dia de folga lembrou-se dos antigos dias de verão, e, em um inverno estranhamente quente, recordou-se que a bolinha amarela de borracha ainda existia, e estava na gaveta do criado-mudo.
E ela ainda continuava amarela e pulante.
-Daiane C Silveira