Eu e minha gata. |
Pink.
É um bom nome a um animal?
Não sei, mas soa como um pingo d'água caindo em um balde cheio, ou o som de um tilintar. Era também a palavra estampada na minha colcha, mas me perdoem, eu tinha 14 anos, e isso em 2005, era como se eu tivesse apenas 10.
Foi em outubro daquele ano, eu havia perdido meu avô no ano anterior, e havia me perdido também. A unica certeza é que amava gatos e precisava de um.
O bom de viver no interior é que tudo se sabe, incluindo uma cria de gatos, cães ou o que seja, todos ficam sabendo.
E nessa época existia uma vizinha, que hoje nem vive mais aqui, mas que tinha uma gata que havia tido vários gatinhos. Foi nessa vizinha que encontrei minha melhor amiga.
Ela era cinza, quase branca e tinha os olhos azuis que pareciam dias de inverno onde não tem qualquer resquício de nuvem. Além disso ela tinha a cauda curta com duas pequenas "quebras" nela. De nascensa. Mas eu a amei ainda mais por isso, por sua diferença.
Foi aí que a levei para casa.
Ela ficou no pequeno comodo nos fundos, depois de eu implorar para meu pai, porque ele queria que ela ficasse fora de casa, mas eu insisti, ela era tão pequenininha que talvez se o vento soprasse mais forte ela não aguentasse.
Bem, o tempo foi passando e ela cresceu no meu colo e ao meu lado no chão do quarto, e acho que deve ter aprendido a fórmula de bhaskara junto comigo, porque eu a trazia junto a mim principalmente nos deveres de casa.
Se eu ia assistir TV ela automaticamente pulava no meu colo, se eu ia dormir se escondia por baixo das minhas cobertas.
Minha nenê, minha Pin...
De pouco em pouco se tornou minha melhor amiga.
As pessoas dizem que gatos tem 7 vidas. Pode-se dizer que depois do que minha amiguinha passou, eu acredito.
Ela amava ficar dentro de casa, mas meu pai a queria fora, por minha causa, ele sempre acabava aceitando.
Ela adorava passear a noite lá fora, gatos são noturnos, e minha vizinhança bem tranquila, então ela saía, com isso dormir no guarda-roupa da minha tia-avó se tornou meio que rotina. Invadir espaços escuros ou semiabertos também.
Gatos são super curiosos.
Bem me lembro de uma coisa, ela DETESTAVA que fizessem cócegas em sua barriga, isso era sua marca registrada desde pequena.
Se alguém a ia pegar eu já dizia "Pode fazer carinho, mas não encosta na barriga dela, que ela não gosta".
Esse privilégio somente eu tive, e o de carregá-la no colo também.
Me lembro de tardes ensolaradas em que ela se deitava na calçada quente do lado de fora do meu quarto, e eu pegava um livro e me sentava ao lado dela, nisso se passavam horas e horas.
Eu e ela.
Tinha a mania de atazaná-la, ela tinha a mania de dormir na minha cama e no sofá da sala, as vezes com as patas sujas de barro, eu ficava brava mas acabava deixando, porque ela me dominava por completo.
Sessão de fotos haviam muitas. Desde o meu primeiro celular a maioria do tempo como fotógrafa era dedicado a ela, que era simplesmente linda.
Ela era bem brava também, mas eu sabia seus limites.
Gatos são como pessoas, fazem o que querem, a hora que querem fazer. Não são como os cães que mesmo depois de gritar com um deles e você o chamar ele vem... Gatos ficam chateados com a gente.
Eles são bem geniosos, mas sabem como ninguém dar amor a quem o merece.
Eu passei minha adolescência e boa parte da minha vida adulta ao lado dela, mas creio que quando me tornei adulta e tive que trabalhar durante o dia e estudar durante a noite ela sentia minha falta, e isso é o que mais me dói, eu não pude dedicar o tempo que dedicava a ela quando era mais jovem.
Eu chegava da faculdade à meia-noite e ela ia ao meu encontro. A mesma coisa acontecia quando eu ficava o dia todo fora de casa, normalmente ela me esperava no portão.
Há duas semanas atrás precisamente dia 21 de maio, ela se foi, e fui iluminada por Deus a estar de férias exatamente quando ela mais precisou de mim, acredito que paguei um pouco da dívida que tinha com ela.
Fiz tudo o que pude.
Ainda quando chego em casa parece que vou vê-la chegar e miar para mim, e, ainda é difícil escrever, mas o que ela sofreu e passou só me faz pensar que vê-la da maneira que ela estava só para que ela estivesse ao meu lado, seria egoísmo.
Se talvez fosse hoje, e eu estivesse com ela em meus braços, as coisas seriam diferentes. Sou imensamente grata por esses 12 anos de amor incondicional. É difícil se despedir, mas as lembranças, fotografias e os sentimentos ficam, não desaparecem.
E agora em cada gato que vejo eu a vejo.
Ela... menina cor-de-rosa, dos olhos cor-do-céu.
-Daiane C Silveira
P.S.:Nós não sabíamos muito bem o que poderia ser feito em relação a gatos, tinha tido alguns, mas em uma idade em que eu estava mais "madura" somente ela mesmo. Por isso era difícil tomar decisões, talvez eu tenha tomado algumas decisões erradas, e não por mal, mas por ignorância. Não gostaria de entrar em detalhes sobre o que aconteceu, mas gostaria de deixar aqui algo que talvez ajude vocês:
- Se vocês tiverem um animal, castre-o. Se não tem dinheiro para castrar, não tenha um animal ou peça ajuda para ONGs que possa castrá-lo de graça para você.
- Jamais apelem para a injeção anti-cio para fêmeas, é um veneno.
- Leve em profissionais que vocês tenham total confiança e boas recomendações.